Dia 7, véspera do dia da mulher, fui, a convite da Vânia, uma grande amiga, ao show do Ney Matogrosso, para, é claro, comemorarmos o nosso dia. Um show de versatilidade: o artista mistura a arte da música, com a arte da dança, da representação, da sensualidade ou, quem sabe, erotismo. Realmente o espetáculo foi um brilho, não só pela indumentária reluzente de Ney, como também pela sua performance.
Vale lembrar que os encontros com a Vânia são sempre muito divertidos, e não foi diferente nesse último. Primeiro porque ela é pontualíssima, influência do espírito europeu, afinal 4 anos na Europa deve ter servido para alguma coisa, né? Na entrada, só ouvia os tamanquinhos dela "toc toc toc" e sua vozinha suave "Anda depressa, assim vamos chegar atrasadas". Segundo, porque ela tem um senso de humor interessantíssimo, apesar de falar sério na maioria das vezes. Logo depois de chegarmos ao local do show, ela logo me apelidou de "nota de um real", devido a minha popularidade. Eram gritos de alunos por toda parte. Rosamélia ou Professora ouvia-se a cada dez passadas. Afinal, essa é uma vantagem de ser professor e, se de português, você nunca é esquecido. Contudo, de certa forma, isso irritava a minha amiga, que habituada à pontualidade, tinha que esperar por mim. Ela só não sabia que teria que esperar 2 horas para assistir ao show.
E por que intitulo esse texto como Reminiscência de infância II? Explico, não sou fã de carteirinha do Ney, gosto de algumas de suas músicas, realmente ele é um excelente cantor, isso é inegável e um artista eclético. Mas, penso que o meu desejo agora é voltar ao passado para falar de minha infância. Ney Matagrosso fez parte do meu repertório de coisas proibidas.
Havia um programa, na Globo, que ia ao ar 1 vez por mês, na década de 70, cuja finalidade era apresentar as músicas mais quentes da balada. Era uns dos meus prediletos. Não entendia muito o porquê não podia assistir ao "Globo de Ouro" quando o Ney Matogrosso estava no elenco de cantores do mês. Era tão ingênua, não entendia o que havia de errado em assistir àquele cantor todo brilhoso e que requebrava o corpo extravagantemente. Aliás, até hoje não vejo o que há de errado, mas compreendo o contexto em que vivia e aquela cidadezinha do interior abominava a purpurina e o exagero, características marcantes de Ney. Só ouvia as minhas irmãs dizendo: "você não pode assistir a esse cantor aí, vá dormir". Nessa época tinha por volta de 6 e 7 anos. Eu esperava o mês inteirinho passar, na expectativa de ver os cantores mais famosos. Vixi... Mas quando o Ney estava no elenco, o meu programa era suspenso e Rosamélia tinha que ir pra cama antes de o "Globo de Ouro" terminar.
De qualquer forma, assistir ao show do Ney ontem, fez-me recordar da minha infância. O fascínio que a TV me provocava. Fez-me recordar da minha residência de infância, da sala comprida com um sofazinho azul, bem simples e uma televisão em preto e branco enorme ao fundo, daquelas de válvulas que demoram de 3 a 4 minutos para esquentar e, consequentemente, o aparelho começar a funcionar. Era uma das poucas da cidade. Dependendo do programa, a sala ficava lotada de crianças e, as noites do "Globo de Ouro", geralmente a última sexta-feira do mês, tornavam-se uma festa. Quanta gente se reunia para assistir ao programa! Eu ficava triste quando o meu cantor preferido não ficava em primeiro lugar, às vezes, até chorava por isso (rsrsrsrs). Sempre fui muito dramática.
Ontem, durante o show, fiquei relembrando a minha infância e imaginando o quanto o Ney Matogrosso deve ter chocado a sociedade brasileira daquela época, a começar pela indumentária. Eu, quando criança, associava-o a um pavão. E essa associação tem uma justificativa óbvia e dispensável. E a sua expressão corporal, os seus jogos de sensualidade misturado com erotismo? E as letras de suas músicas? Realmente o que Ney Matogrosso faz é uma interpretação, um teatro de suas músicas, uma vez que dança, insinua-se, faz streap, canta. O show de ontem, ao que me parece, foi aos moldes dos seus shows na década de 70. Pensando bem, para essa década, o artista deve ter sido mesmo uma vanguardista. Somente, eu, ingênua, não compreendia o estranhamento que ela provocava nas pessoas. Não é de se admirar que muita gente não apreciasse a arte do Ney Matogrosso, sobretudo no interior de Minas. Eu ouvia comentários dos vizinhos: "ele é obsceno, ele é homossexual". Confesso que aqui eu estou sendo diplomática, porque os comentários eram todos vulgares, mas eu nao os entendia. Só muito depois fui compreender a signficação das pérfidas crítcas, mas aí já não adiantava mais, talvez até concordasse com elas, afinal, era mais uma mineirinha do interior.
Muito mais interessante foi reconhecer que, até na era pós-moderna, Ney Matogrosso é um artista, muitas vezes, provocante e incomprendido, durante o show, ouvia os mais diversos comentários, entre tantos negativos, dois que eu achei hilários: o primeiro realizado por uma senhora que estava do meu lado: "Ah, esse homem na minha cama", de repente dela veio o grito: "Ney, aparece lá em casa pra usar a minha cama". O segundo eu recebi de um aluno, com o qual havia encontrado na entrada do show. Seu comentário veio por mensagem no celular. Achei-o muito engraçado mas também inteligente, talvez intolerante: "Professora, podemos fazer uma analogia com O pequeno príncipe neste show: começou com uma 'ema' - que remetemos a saída do príncipe do asteróide. Passamos pelo momento 'cobra', que rebola mais que a Lacraia. Terminemos com a 'raposinha manhosa' no sofá. kkkkkkkk!".
Ney, pelo jeito, entusiasmou a plateia, mas ficou devendo, nao cantou uma de suas músicas que mais fez sucesso durante a minha infância e a qual eu era proibida de cantar, quando ensaiava, ouvia o meu pai: "Isso não é música procê cantar não".
Veja o vídeo da referida música e comprove a pura arte da dança, da canção, da interpretação, da plasticidade e do exibicionismo corporal... Aliás, é a mistura de todas as artes num único show.
Vale lembrar que os encontros com a Vânia são sempre muito divertidos, e não foi diferente nesse último. Primeiro porque ela é pontualíssima, influência do espírito europeu, afinal 4 anos na Europa deve ter servido para alguma coisa, né? Na entrada, só ouvia os tamanquinhos dela "toc toc toc" e sua vozinha suave "Anda depressa, assim vamos chegar atrasadas". Segundo, porque ela tem um senso de humor interessantíssimo, apesar de falar sério na maioria das vezes. Logo depois de chegarmos ao local do show, ela logo me apelidou de "nota de um real", devido a minha popularidade. Eram gritos de alunos por toda parte. Rosamélia ou Professora ouvia-se a cada dez passadas. Afinal, essa é uma vantagem de ser professor e, se de português, você nunca é esquecido. Contudo, de certa forma, isso irritava a minha amiga, que habituada à pontualidade, tinha que esperar por mim. Ela só não sabia que teria que esperar 2 horas para assistir ao show.
E por que intitulo esse texto como Reminiscência de infância II? Explico, não sou fã de carteirinha do Ney, gosto de algumas de suas músicas, realmente ele é um excelente cantor, isso é inegável e um artista eclético. Mas, penso que o meu desejo agora é voltar ao passado para falar de minha infância. Ney Matagrosso fez parte do meu repertório de coisas proibidas.
Havia um programa, na Globo, que ia ao ar 1 vez por mês, na década de 70, cuja finalidade era apresentar as músicas mais quentes da balada. Era uns dos meus prediletos. Não entendia muito o porquê não podia assistir ao "Globo de Ouro" quando o Ney Matogrosso estava no elenco de cantores do mês. Era tão ingênua, não entendia o que havia de errado em assistir àquele cantor todo brilhoso e que requebrava o corpo extravagantemente. Aliás, até hoje não vejo o que há de errado, mas compreendo o contexto em que vivia e aquela cidadezinha do interior abominava a purpurina e o exagero, características marcantes de Ney. Só ouvia as minhas irmãs dizendo: "você não pode assistir a esse cantor aí, vá dormir". Nessa época tinha por volta de 6 e 7 anos. Eu esperava o mês inteirinho passar, na expectativa de ver os cantores mais famosos. Vixi... Mas quando o Ney estava no elenco, o meu programa era suspenso e Rosamélia tinha que ir pra cama antes de o "Globo de Ouro" terminar.
De qualquer forma, assistir ao show do Ney ontem, fez-me recordar da minha infância. O fascínio que a TV me provocava. Fez-me recordar da minha residência de infância, da sala comprida com um sofazinho azul, bem simples e uma televisão em preto e branco enorme ao fundo, daquelas de válvulas que demoram de 3 a 4 minutos para esquentar e, consequentemente, o aparelho começar a funcionar. Era uma das poucas da cidade. Dependendo do programa, a sala ficava lotada de crianças e, as noites do "Globo de Ouro", geralmente a última sexta-feira do mês, tornavam-se uma festa. Quanta gente se reunia para assistir ao programa! Eu ficava triste quando o meu cantor preferido não ficava em primeiro lugar, às vezes, até chorava por isso (rsrsrsrs). Sempre fui muito dramática.
Ontem, durante o show, fiquei relembrando a minha infância e imaginando o quanto o Ney Matogrosso deve ter chocado a sociedade brasileira daquela época, a começar pela indumentária. Eu, quando criança, associava-o a um pavão. E essa associação tem uma justificativa óbvia e dispensável. E a sua expressão corporal, os seus jogos de sensualidade misturado com erotismo? E as letras de suas músicas? Realmente o que Ney Matogrosso faz é uma interpretação, um teatro de suas músicas, uma vez que dança, insinua-se, faz streap, canta. O show de ontem, ao que me parece, foi aos moldes dos seus shows na década de 70. Pensando bem, para essa década, o artista deve ter sido mesmo uma vanguardista. Somente, eu, ingênua, não compreendia o estranhamento que ela provocava nas pessoas. Não é de se admirar que muita gente não apreciasse a arte do Ney Matogrosso, sobretudo no interior de Minas. Eu ouvia comentários dos vizinhos: "ele é obsceno, ele é homossexual". Confesso que aqui eu estou sendo diplomática, porque os comentários eram todos vulgares, mas eu nao os entendia. Só muito depois fui compreender a signficação das pérfidas crítcas, mas aí já não adiantava mais, talvez até concordasse com elas, afinal, era mais uma mineirinha do interior.
Muito mais interessante foi reconhecer que, até na era pós-moderna, Ney Matogrosso é um artista, muitas vezes, provocante e incomprendido, durante o show, ouvia os mais diversos comentários, entre tantos negativos, dois que eu achei hilários: o primeiro realizado por uma senhora que estava do meu lado: "Ah, esse homem na minha cama", de repente dela veio o grito: "Ney, aparece lá em casa pra usar a minha cama". O segundo eu recebi de um aluno, com o qual havia encontrado na entrada do show. Seu comentário veio por mensagem no celular. Achei-o muito engraçado mas também inteligente, talvez intolerante: "Professora, podemos fazer uma analogia com O pequeno príncipe neste show: começou com uma 'ema' - que remetemos a saída do príncipe do asteróide. Passamos pelo momento 'cobra', que rebola mais que a Lacraia. Terminemos com a 'raposinha manhosa' no sofá. kkkkkkkk!".
Ney, pelo jeito, entusiasmou a plateia, mas ficou devendo, nao cantou uma de suas músicas que mais fez sucesso durante a minha infância e a qual eu era proibida de cantar, quando ensaiava, ouvia o meu pai: "Isso não é música procê cantar não".
Veja o vídeo da referida música e comprove a pura arte da dança, da canção, da interpretação, da plasticidade e do exibicionismo corporal... Aliás, é a mistura de todas as artes num único show.
4 comentários:
Deve ter sido muito bonito o shou do Ney, com toda indumentária reluzente, como você disse, só não sabia da proibição, na sua infaancia, sendo uma das irmãs mais velhas, nem lembrava, mas sei que Ney, foi o primeiro a se apresentar na televisão sem camisa e rebolar muuuuuuito, isso nosso pai não aceitava mesmo, como me lembro!!! São boas as lembranças.
Beijos.
Pois é... Mas isso, eu acho, que foi devido à irreverência do Ney, se até hoje ele assuta, imagina naquela época! Normalíssimo. Durante o show eu fiquei me lembrando dos comentários que ouvia acerca do Ney. Mas não há nada demais, ele é só um artista, muito eclético por sinal.
Beijo e obrigada. Seus comentários são sempre engrandecedores.
Oi Rosinha,
Eu não fiquei nervosa com voce no show mas sim decepcionada com a enrolação dos organizadores do evento que divulgaram o mesmo para as 21 horas. Foi um verdadeiro desrespeito ao público!!! Enfim o show foi muito bom e melhor ainda o nosso encontro amigo =D.
Vânia, encontrar vc é sempre muito bom! É diversão pura. Obrigada, amiga.
Beijo e vamos marcar de novo...
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