domingo, 31 de janeiro de 2010

O conto da ilha desconhecida - José Saramago

Rosa Amélia
LI O TEXTO "O conto da ilha desconhecida" aproximadamente há 5 anos e nunca me esqueci de sua linda metáfora. E, muitas vezes, senti, na alma, necessidade de relê-lo, agora o fiz. Novamente deixei que o texto de Saramago tomasse conta do meu ser, me lesse à medida que eu o relia. Isso me fez feliz, talvez, porque, nesse momento, alguns acontecimentos têm me feito sentir cada vez mais ilha, mas ilha completa, que se descobre pouco a pouco... Ilha que olha as outras ilhas e consegue gostar de si e dos outros, mesmo a distância, porque, para citar Saramago, compreendo cada vez mais que "Gostar é a melhor maneira de ter"(p. 32). E eu tenho gostado muito de tudo e de todos: dos meus filhos, da minha família, dos meus amigos, da minha história, do meu trabalho, de mim mesma.
O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA, publicado em livro e também disponível na rede, é uma história curta de um homem que deseja encontrar a ilha desconhecida e para isso enfrenta a burocracia do reino. O texto revela-se uma metáfora perfeita para o comportamento humano, que, nas palavras de Saramago, para conhecer a si mesmo, deve sair de si, cito-o: "Se não saís de si, não chegas a saber quem és, (p. 40). Inicialmente, pode-se observar um crítica ao sistema político. E o texto vai além: por meio do comportamento de um homem, que, numa luta incansável por encontrar a ilha desconhecida, realiza o encontro quando sonha e quando se deixa encontrar consigo mesmo, Saramago revela um sentimento universal de que aquilo que, aflitamente, procuramos fora de nós, costuma estar dentro de nós mesmos e nos faz mais felizes do que aquilo que buscamos adquirir tendo, pois segundo o próprio autor, "ter é a pior maneira de gostar" (p. 32).
RECOMENDO a leitura, texto fácil, agradável, para não dizer delicioso de se ler, com estruturas sintáticas inusitadas e, sobretudo, composto por uma metáfora incomparável.
"O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual."(p. 34)
A ilha desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma. (p.62)



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