segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pequenas memórias

Por Rosa Amélia

Ler Saramago é um prazer e quase sempre faço de um lance só. Depois releio, para saborear mais uma vez, como fiz com o Conto da Ilha Desconhecida, sobre o qual já escrevi. Depois de ler Memorial do Convento, Jangada de Pedra, Ensaio sobre a Cegueira e outros que me esforço para não deslembrar, encontro-me com o grande "Pequenas Memórias", texto de cunho biográfico, por isso memorialístico, ou será o contrário?
Não importa. O que vale na leitura é a grandiosidade
do escritor ao recompor a sua história de vida até a adolescência (15 anos), que não é diferente da nossa vida comum. Fatos corriqueiros de família, brigas por ciúmes, escassez de dinheiro, dificuldades e sucesso na escola, conflitos amorosos, relações afetivas na família e fora dela desde a infância, tudo se resume à vida de qualquer ser humano. De certa forma, isso alimenta a nossa alma, já que somos, de alguma feita, representados em seu romance, ou seja, em suas memórias. Se tudo que está registrado ali é verdade, nunca se saberá, já que, para citar o próprio Saramago, "falsas memórias não existem, que a diferença entre elas e as que consideramos certas e seguras se limita a uma simples questão de confiança que em cada situação tivermos sobre essa incorrigível vaguidade a que chamamos certeza" (2006: p. 110). Fica a sugestão de leitura com as palavras profundas do próprio autor, aquele que, pela primeira vez na história da humanidade, deu sobrenome ao pai. Vale a pena conferir. É puro deleite comprovar que Saramago teve infância simples, por isso, às vezes, sofrida e quase sempre feliz nessa simplicidade, como muitos de nós tivemos em muitos aspectos de nossas vidas. E que ele fez questão de relembrar e contar, para nos revelar, com confiança, a beleza de sua experiência de vida e, quiçá, a nossa, oculta em nossos silêncios.

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