Por Rosa Amélia
RETRATO EM SÉPIA, romance de Isabel Allende, escritora chilena, é a uma história contada por Aurora, protagonista que tenta se auto conhecer, entender os seus pesadelos, sempre recorrentes em noites conflituosas. Para entender o fato encobridor dos seus pesadelos, ela retoma a constituição da família. Narra a história do casamento de Paulina Del Valle, sua avó paterna, a saída dela do Chile, o seu enriquecimento e a sua decadência na sociedade da Califórnia e os conflitos vividos no casamento, advindos de seu temperamento difícil. Aurora conta também a história de Eliza Sommers, sua avó materna, que sai de casa, para viver a aventura de um grande amor clandestino. Quando conhece Tao-Chi-en; apaixona-se por ele e vive uma nova história de amor, consumada em um relação afetiva feliz, até que a morte leva-lhe o companheiro. A narradora ainda conta acerca de Nívea, uma prima, de espírito revolucionário, a qual muito lhe ensina sobre as artes de amar e de viver.
DEPOIS DE APRESENTAR as histórias dessas três mulheres, as quais foram importante na construção de sua própria estória, Aurora relata os fatos relevantes de sua vida: o seu nascimento, memória que ela constrói a partir daquilo que os outros lhe contam; a sua infância com os avós maternos e depois a sua transferência, aos 5 anos, para a casa dos avós paternos. Nesse momento, ela revela como se constituiu sua tímida rebeldia. Apresenta os momentos importantes da adolescência, principalmente, aqueles que contribuíram para a construção de sua relação com Diego, seu marido, e com Ivan Radovik, junto a quem teve um relacionamento pós-conjugal. Tal sequência de narrativas revela-se uma tentativa de a narradora compreender e dar coerência à sua vida, pela retomada de suas memórias(1) e as de sua família.
AO FINALIZAR A LEITURA do romance, que transcorre por três gerações de uma família, podemos reconhecer muitos valores relacionados à constituição da sociedade, que vigoram até hoje, sobretudo no que se refere aos valores patriarcais, sexistas e nem um pouco condescendentes com a figura feminina. É uma ótima leitura, fica aí a sugestão. É um texto que, no plano social, discorre sobre a evolução da mulher na sociedade, por isso penso que seja uma leitura obrigatória para nós, mulheres e latino-americanas. No plano individual, cada uma de nós pode se reconhecer, em muitos momentos, nas várias memórias revividas por Aurora, por meio do testemunho, e ainda pode ser uma forma terapêutica de a mulher se reconciliar com a sua própria estória, um exercício de autoentendimento.
[1]Memória, segundo Ricoeur (2007), é a presença do passado, presentificação do ausente; no caso, são as lembranças e recordações, estas movidas pela busca ativa do sujeito e aquelas estimuladas por movimento espontâneo do psiquismo humano. Elas vêm à tona, desvirtualizam-se, caracterizando a ato de trazer à baila, no momento presente, uma experiência anteriormente vivida.
Um comentário:
Amo esse livro!
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