quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Asfalto selvagem - Nelson Rodrigues.

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Quem entende a personificação metafórica e sinestésica da obra rodrigueana?
"ASFALTO SELVAGEM".
Rosamélia
LEITURA picante do início ao fim. Nelson, no Brasil de 45/50, revela-se provocativo, porque, de uma forma irônica e bem humorada, ele desnuda a alma humana, diante de uma sociedade cheia de valores hipócritas e que, acima de tudo, sabe-se assim, mas não se admite. Talvez Nelson tenha sido o nosso maior dramaturgo, romancista, cronista de perfil naturalista. E sabem por quê? A forma como narra as lascívias vividas por seus personagens é tão simples, contudo tão real, que as imagens parecem estar no nosso tato devido ao detalhe e à forma descritiva que revela o lado obscuro da alma humana. É um modo de escrever que gera muitas expectativas. É como se pudéssemos sentir, no texto, tanto o bem quanto o mal, tanto o desejo quanto o desprezo, tanto o amor quanto o ódio, todos os sentimentos expressos pela linguagem e vividos por seus personagens, na sua forma mais zoomórfica possível.
NELSON tem uma maneira peculiar de capturar e registrar a realidade. Uma maneira que revela a sordidez e os conflitos da psique humana de uma forma que nos deixa avassalados, inundados pelo desejo de ler e e de nos envolver com a leitura. A cada frase escrita por Nelson, tem-se uma cilada, mas uma cilada boa, que, como em um jogo, vai nos tornando prisioneiros do texto e não conseguimos mais nos desvencilhar dele. É fantástico, é também lascívia pura.
A NARRATIVA explora jogos de sedução, traição, incesto, promiscuidade política, pseudovalores patriarcais. Engraçadinha - a personagem principal - torna-se vítima de suas brincadeiras e ludibrios amorosos e assim se desenrola a narrativa. Sob as ordens do pai, homem dissimulado, do qual Engraçadinha parece ter herdado tal característica, ela vai se revelando: pura e sórdida, sútil e vulgar. Parece paradoxal! E é, mas contradições que podem acontecer com qualquer um que deseja se entregar para viver os prazeres exigidos pelo corpo, mas vive sob a tutela de valores morais repressores e alienantes. É lascívia pura mesmo e uma delícia de se ler, porque muitas vezes nos enxergamos no texto.
SERÁ que conseguimos entender o título? Asfalto remete a algo rígido, sobre o qual podem passar todos e tudo. E selvagem - a personificacão da rigidez - remete ao caráter biológico do qual ninguém pode se desprender ou deixar de viver. Asfalto selvagem é tudo que está dentro de nós no aspecto mais animal e mais humano. Inteligível? Parece que não. Mas lendo a obra, pode-se compreender o que eu digo. É isso aí: outra sugestão, agora picante, deliciosa. Vale à pena conferir.






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