sábado, 5 de dezembro de 2009

Efeito entorpecente: O caçador de pipas

Rosamélia

AGORA são 3:30 da manhã e, desde sexta às 23 horas, estive grudada na leitura de "O caçador de pipas", romance escrito por Khaled Hosseini, com 365 páginas e que revela algumas características da metaliguagem. A leitura da literatura sempre teve sobre mim um efeito mais que catártico, porque esse vem depois. A leitura da literatura, na singularidade irrepetível de seu ato, me entorpece. Fico presa a ela, esqueço as obrigações, o mundo, passo o dia e a noite envolvida e curto a leitura à base de ameixas secas. Não consigo me desvencilhar das imagens que construo a partir das metáforas, dos símbolos. Sinto necessidade da história mais do que de qualquer outra coisa. A minha imaginação e o meu desejo pela leitura se confundem comigo mesma, os meus sentimentos se apoderam do livro e, como a um filho, amo-o até o final da leitura. E sinto uma tristeza tremenda quando o livro termina, porque parece que um pedacinho de mim ali também se esvai. Só depois sinto a profundidade da famosa catarse. Isso sempre acontece quando leio um bom livro. E o que é um bom livro? Difícil resposta. Mas fica aí uma indicação:
"O CAÇADOR DE PIPAS" é uma história em que o narrador - Amir - narra a luta interior para enfrentar os seus temores e seus modos de fuga: um deles a leitura e a escrita; tem como pano de fundo a história política do Afeganistão, as desgraças de um povo subordinado às invasões da Rússia, às leis do taliban, e mais tarde aos ataques dos Estados Unidos. Tal luta interior revela a dor do crescimento de Amir e Hassan, seu criado e irmão. Dor que ele - Amir - procura esquecer ao provocar o seu distanciamento de Hassan, de cuja irmandade só tomara conhecimento depois de adulto e da morte do pai. Mesmo sem ter conhecimento do fato de serem irmãos, Amir trava com Hassan uma luta injusta, porque é o mais forte e sabe que vai vencer sempre. É uma luta nascida do ciúme e travada pelo reconhecimento e o amor do pai. Com os acontecimentos políticos, Amir e seu pai refugiam-se para os Estados Unidos. A lembrança de Hassan e toda a covardia de Amir - inaceitável a um homem afegão - atormentam-no por toda a sua vida. O exílio na América e a morte do pai, entre outros fatos, fazem com que ele amadureça. Ele busca se redimir de seus erros ao adotar o filho de Hassan, que ficara órfão no seu país natal. A história é um misto de amor - philia -, ciúmes, traícão, reconciliação, abuso sexual, repressão política e religiosa; mas emocionante, cativante. Sugiro a leitura a todos. Tentei aqui não contar os fatos porque a forma como eles são narrados, o jogo na tessitura do texto entre mémorias e as expectativas que elas geram são excepcionais. E é delicioso descobrir isso em um mergulho solitário no texto para depois, num ato de solidariedade, dividir com o outro. Taí a sugestão, leia o livro!!!

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