Por Rosa Amélia Silva
O termo regionalismo foi
cunhado na literatura brasileira para designar a arte literária que se baseia em costumes e tradições regionais e que tem
como uma de suas características o uso de linguagens locais. Para entender o
processo de construção semântica do termo, pode-se realizar uma imersão no
fenômeno literário brasileiro. Dessa forma, verifica-se a unidade entre o fazer
artístico nos planos regional e universal.
Vale lembrar que, se tomarmos o conceito de regionalismo
literalmente, toda arte deve ser considerada regional, uma vez que ela é sempre
produzida em um contexto local. Tal consideração reflete, sobretudo, na arte
literária, que tem como matéria-prima a linguagem. E por mais que a língua seja
única para a pluralidade, usada por um
grupo maior, por exemplo, um país, um Estado, ela se destaca, enquanto
linguagem, pela sua singularidade de uso em cada região, em cada contexto.
Dessa forma, toda literatura abarca e explora uma linguagem contextual, refrata
e reflete a cultura de um povo, logo não deixa de ser regional, mesmo aquelas que não são, pela crítica, considerada regional. Segundo Ribeiro
(apud Candido 2008) “somos um conjunto de regiões, antes de sermos uma coleção
arbitrária de Estados”. A literatura é a criação estética a partir da linguagem
dentro de um panorama cultural de um povo. Mesmo sendo urbana, indianista, psicológica,
realista, na literatura sempre se explorará um aspecto regional, sobretudo no que se refere à
linguagem, cujo jogo estético se desenvolve tanto no conteúdo quanto na forma.
O mote, cujo retrospecto de como se institui o conceito de
“regionalismo” na literatura brasileira, e como ele foi se solidificando à
medida que a própria arte literária, no país, foi tomando substância durante
todo o processo de colonização e, depois, de politização do Brasil; explora o
entendimento de algumas características da literatura mineira e motiva a sua
leitura.
Segundo Afrânio Coutinho (s/d), desde o momento em que o português
chegou ao país, começou-se a produzir nova literatura, distinta da produzida na
metrópole, uma vez que o homem que aqui se instalou não podia ser o mesmo homem
se ele tivesse a oportunidade de ter ficado na Europa. Os seus objetivos eram
outros em virtude do novo mundo, da nova região em que se encontrava e na qual
passava a viver e das relações sociais que começava a travar. Não se pode dizer
que os textos – até mesmos os informativos – produzidos aqui à época – fossem
caracterizados pela cultura europeia. Culturas se defrontavam e culminavam numa
produção distinta, com características bem peculiares. Apesar de se entender a
singularidade dos textos produzidos nessa época, ainda não se caracterizava
como da região a literatura produzida aqui, mesmo sabendo que a nova região em que
o homem estava se inserindo contribuía para a produção, da qual também era
reflexo.
Segundo Antonio Candido (2008), em relação à época colonial, não
se pode ainda falar em sistema literário brasileiro, uma vez que ele não estava
integralmente constituído: obra – consumidor e produtor. Havia manifestações
literárias, promovidas pela singularidade da cultura que estava sendo erigida.
Esse sistema foi se constituindo à medida que a história do Brasil, enquanto
Estado Nacional, se edificou. Ao emergir tal sistema, meados do século XVIII, nasceram
várias vertentes para caracterizar a produção literária no Brasil.
À medida que o país se consolidava politicamente e rompia com a
metrópole, constituía-se novo referencial literário integrado ao registro
cultural do povo brasileiro, aos seus ideais políticos e às suas singularidades
linguísticas e artísticas. Engendrava-se, assim, uma nação por meio de uma
identidade pátria singular: um povo, com suas peculiaridades no modo de fazer
política, de fazer justiça, de comprar e vender, de cobrar tributos, de empregar
a língua para a comunicação e para a representação de seus mitos, para produzir
seus símbolos, seus valores, a ideologia pátrio-nacional. Tudo isso, de forma
lenta e gradual, compunha a construção do fazer literário regional brasileiro.
De início, a produção se concentrou na cidade do Rio de Janeiro,
porque ali se concentrava a aristocracia, talvez a única, naquele momento,
capaz de fazer parte do sistema literário que se instituía, tanto como
produtora quanto como consumidora. O país avança para o interior, nascem outras
possibilidades de representação, além da urbana aristocracia. Entre eles,
destaca-se o indianismo muito explorado na construção do autêntico mito
nacional. Além dele, aparece, de forma bastante incipiente, o regionalismo,
centrado na valorização do sertanejo, do homem assentado no interior do Brasil,
deslocado do eixo urbano, e singularizado
cada vez mais, destacando-se pelas suas intrínsecas excentricidades, constituindo
a verdadeira brasilidade.
Ressalta-se que devido à imensa extensão territorial do Estado brasileiro,
a literatura produzida em todos recônditos do país, denominada como “regional”,
não apresentava as mesmas características. Escritores do regional sul
expressavam e valorizavam a cultura da região, seus mitos, seus valores, pelo
modo específico de uso corrente da linguagem.
No extremo norte e ou nordestino, da mesma forma, o brasileiro – mesma
nacionalidade – sendo demudado, tendo outras relações, constrói-se de forma
diferente. Não podia ser diferente com o brasileiro que, cada vez mais embrenhado
nas regiões mais interioranas, nos campos gerais e nas minas ricas de jazidas,
segundo Ribeiro (2006), compunha a cultura naturalmente
brasileira.
O regionalismo cultural se estendeu ao literário, numa tentativa
de caracterizar uniformemente toda a produção literária que se realiza nas
diferentes culturas do norte ao sul do Brasil. Ressalta-se, porém, que, diante
dos espaços e da forma, muitas vezes, pitoresca de representação das ações
humanas, as literaturas regionais revelavam-se cada vez mais distintas e
diversas.
E, devido a esse fato, por vezes, foi considerada pela crítica, e
até mesmo pelos próprios produtores, como subliteratura. Ideia reforçada pelo
contraponto à literatura produzida nos centros urbanos, sobretudo no eixo Rio -
São Paulo. Por muito tempo, esta produção foi elevada ao patamar de alta
literatura, porque era capaz, pelos jogos eruditos da linguagem, de refletir os
conflitos humanos mais intensos e mais complexos por meio da palavra,
esteticamente elaborada e, além disso, era produzida e valorizada por quem a
produzia: a elite.
E nas mãos de João Guimarães Rosa que esse jogo se transfigura.
Ele demonstra ao mundo que mesmo a linguagem mais simples, e não menos complexa,
pode revelar o sentimento mais intricado e imanente ao ser humano. Não é o fato
de ser interiorana, distante de condições privilegiadas de formação acadêmica,
que a destitui de seu caráter abrangente, assim como qualquer outra em qualquer
região do Brasil e do mundo. É nesse sentido que Guimarães Rosa consegue
sintetizar a universalidade pelo regional. A linguagem mineira, característica
do sertanejo em suas vicissitudes, não deixa de ser completa e de alcançar o
nível do extraordinário porque assim também o é. O fato de ela assim o ser –
regional – é condição sine qua non para que ela seja
universal. Não no sentido de que todos a dominem, mas no sentido daquilo que
ela expressa, como qualquer linguagem de qualquer outro lugar ou região: os
sentimentos mais intrínsecos da natureza humana.
Para demonstrar tal ideia, cita-se um trecho de Grande Sertão: Veredas em que o autor,
pela cultura regional do sertão, sobretudo, a linguística, demonstra dois dos
mais velhos conflitos da humanidade: a luta interna entre o bem e o mal, que caracteriza o paroxismo
no qual o homem vive e luta para se entender; e a compreensão metafísica, que
constantemente, torna caminho para o entendimento maior daquilo que transcende
o ser-homem . O sobrenatural que rege o homem, o divino, explicita-se, no mesmo
trecho, pelas interrogações constantes “E o que isso é?” (2001, p. 27) “Uê, uê,
então?! Não sendo como compadre meu Quelemém quer, que explicação é que o
senhor dava? (2001, p. 30), ao final de cada reflexão ou cada causo. Essas
interrogações reportam para o irrespondível, ou para a única resposta possível:
o sobrenatural como a forma possível para explicar o conflito premente no
coração do homem: o paroxismo entre o bem e o mal.
Melhor se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e
folhas, não dá mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata?
Agora, o senhor já viu uma estranhez? A
mandioca-doce pode de repente virar azangada – motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre,
com mudas seguidas, de manaíbas – vai se amargando, de tanto em tanto, de si
mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca-brava, também é que às
vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. E o que isso é?
(...)
Nesse pequeno parágrafo João Guimarães Rosa sintetiza toda
reflexão implícita nos vários causos que se apresentam na sequência do monólogo
de Grande Sertão: Veredas. O escritor provou que o simbólico, o
mítico, a filosófico podem se concretizar na linguagem, aparentemente simples
do sertanejo, nas suas metáforas riquíssimas e muito bem elaboradas – talvez
incompreensíveis para aqueles que não conhecem a cultura sertaneja. A relação dual
e inexplicável, presente na natureza humana, é expressa na relação metafórica
entre o homem e a planta. É comparada, implicitamente, à natureza da planta “mandioca”.
O
escritor pede para que se observe e “melhor se arrepare” a estranheza que causa
o fato de no mesmo chão, ou seja, na mesma terra, no mesmo mundo, nasceram
plantas “iguais em formato e folhas”, as quais, metaforicamente, reportam para
os homens, iguais em tudo, em seu caráter físico, psicológico, social e até
espiritual. Contudo esse homem, igualmente assinalado, pode se revelar bom em
alguns momentos e em outros, ser mal, de todo mal. Para construir tal relação,
o autor apresenta as características da planta “mandioca” que poucas pessoas
conhecem: o fato de ela ser “azangada” ou “doce”.
Na
primeira situação, ela não é comestível, uma vez que contém o ácido cianídrico, elemento químico venenoso que, ao cair
na corrente sanguínea e estabelecer contato com o ferro presente na
hemoglobina, bloqueia a passagem de oxigênio, matando a pessoa por sufocamento.
Tal descrição pode ser relacionada ao comportamento das
pessoas que são más; pois, ao serem dessa forma, sufocam a si mesma e aos
outros, deixando-as amargas sem prazer
de viver, sem o bem-estar.
Do contrário, sendo a pessoa do bem, mansa, expressa na
natureza da “mandioca-doce”, própria para o alimento do corpo, tal relação reporta
para o comportamento da pessoa do bem, que assim sendo, alimenta a alma.
Contudo, o estado de bondade ou de maldade não
é continuamente perene. O sentir o bem e o mal, o devir da natureza
humanda alternam essa condição entre ser do bem
e não ser do bem, preciosamente
elaborada na obra de Guimarães Rosa, a partir da expressão “replantada no terreno sempre,
com mudas seguidas, de manaíbas – vai se amargando, de tanto em tanto”.
Acrescenta ainda que o dualismo está presente na obra de Guimarães, desde o título Grande Sertão: Veredas, que alude à a
natureza macro do sertão e para a natureza micro das veredas, até a condição
ambígua que constitui um conflito existencial para o homem. O duplo: um e outro, o devir e não devir, o micro e o
macro, o bem e o mal, Deus e o diabo, um no outro instaura a vida humana num
movimento crescente de ser e não-ser
O ser do bem e o não-ser do bem constituem o devir humano
por meio de suas experivências. As experiências humanas que de forma singular
contribuem para a alternância entre exercer o bem ou mal está expresso em “replantada no terreno sempre, com mudas seguidas,(...)
amargando-se, de tanta em tanta, que de si mesma toma as peçonhas”. Assim como
o veneno quando injetado no corpo humano torna-se antídoto para a doença, as
ações ruins continuamente praticadas pelo homem
pode gerar nela o seu oposto, torná-lo homem bom, melhor, sendo no exercício
do ser e do não-ser bom, no exercício do sofrimento que ser o mal nos causa, ou
aguça mais ainda a ruindade que se aloja dentro do homem.
Para comprovar a filosofia da alternância do bem e do mal
constituinte da existência e dos conflitos humanos, João Guimarães Rosa apresenta
vários causos, à moda das rapsódias gregas. Seguem-se dois. O primeiro
exemplifica, na alma humana, a presente alternância entre o ser do bem e o ser
do mal, e partir de experiências que culminam com a vitória o ser-bom. O segundo demonstra o aguçado sentir-se do
mal (ou do bem em outras situações, por exemplo, o caso de Maria Mutema), que
de tanto se repetir como experivivência, torna o homem cada vez mais perverso.
O senhor ache e não ache. Tudo é e não é... Quase todo mais grave
criminoso feroz, sempre é muito bom marido, bom filho e bom pai, e é bom amigo
de amigo-de-seus-amigos! Sei desses. Só que tem os depois – e Deus, junto. Vi
muitas nuvens.
(...) Olhe um chamado Aleixo, residente de légua do Passo do Pubo,
no da-Areia, era o homem de maiores ruindades calmas que já se viu. Me agradou
que perto da casa dele tinha um açudinho, entre as palmeiras, com traíras,
pra-almas de enormes, desenormes, ao real, que receberam fama; o Aleixo dava de
comer a elas, em horas juntas, elas se acostumaram a se assim de locas, para
papar, semelhavam ser peixes ensinados. Um dia, só por graça rústica, ele matou
um velhinho que por lá passou, desvalido rogando esmola. O senhor não duvide –
tem gente, neste aborrecido mundo, que matam só pra ver alguém fazer careta...
Eh, pois, empós, o resto o senhor prove: vem o pão, vem a mão, vem o são, vem o
cão. Esse Aleixo era homem afamilhado, tinha filhos pequenos; aqueles eram o
amor dele, todo, despropósito. Dê bem, que não nem um ano estava passado, de se
matar o velhinho pobre, e os meninos do Aleixo adoeceram. Andaço de sarampão,
se disse, mas complicado; eles nunca saravam. Quando, então, sararam. Mas os
olhos deles vermelhavam altos, numa inflama de sapiranga à rebelde; e
susseguinte – o que não sei é se foram todos duma vez, ou um logo e logo outro
e outro – eles restaram cegos. Cegos, sem remissão de um favinho de luz dessa
nossa! O senhor imagine: uma escadinha – três meninos e uma menina – todos
cegados. Sem remediável. O Aleixo não perdeu o juízo; mas mudou: ah, demudou
completo – agora vive da banda de Deus, suando para ser homem bom e caridoso em
todas suas horas da noite e do dia. Parece até que ficou o feliz, que antes não
era. Ele mesmo diz que foi um homem de sorte, porque Deus quis ter pena dele,
transformar para lá o rumo da sua alma.
(...) Mire e veja: se me digo, tem um sujeito Pedro Pindó, vizinho
daqui mais seis léguas, homem de bem por tudo em tudo, ele e a mulher dele,
sempre sido bons, de bem. Eles têm um filho duns dez anos, chamado Valtêi –
nome moderno, é o que o povo daqui agora aprecêia, o senhor sabe. Pois
essezinho, essezim, desde que algum entendimento alumiou nele, feito mostrou o
que é: pedido madrasto, azedo queimador, gostoso de ruim de dentro do fundo das
espécies de sua natureza. Em qual que judia, ao devagar, de todo bicho ou criaçãozinha
pequena que pega; uma vez, encontrou uma crioula benta-bêbada dormindo,
arranjou um caco de vidro, lanhou em três pontos a popa da perna dela. O que
esse menino babeja vendo, é sangrarem galinha ou esfaquear porco. – “Eu gosto
de matar...” – uma ocasião ele pequenino me disse. Abriu em mim um susto;
porque: passarinho que debruça – o vôo já está pronto! Pois, o senhor vigie: o
pai, Pedro Pindó, modo de corrigir isso, e a mãe, dão nele, de miséria e mastro
– botam o menino sem comer, amarram em árvores no terreiro, ele nú, nuelo,
mesmo em junho frio, lavram o corpinho dele na peia e na taca, depois limpam a
pele dele do sangue, com cuia de salmora. A gente sabe, espia, fica gasturado.
O menino já rebaixou de magreza, os olhos entrando, carinha de ossos,
encaveirada, e entisicou, o tempo todo tosse, tossura da que puxa secos peitos.
Arre, que agora, visível, o Pindó e a mulher se habituaram de nele bater, de
pouquinho em pouquin, foram criando nisso um prazer feio de diversão – como
regulam as sovas em horas certas confortáveis, até chamam gente para ver o
exemplo bom. Acho que esse menino não dura, já está no blimbilim, não chega
para a quaresma que vem... Uê, uê, então?! Não sendo como compadre meu Quelemém
quer, que explicação é que o senhor dava? (2001, p 27-30)
O homem inventa palavras, usa-as criativamente, numa tentativa de
capturar um sentimento, um conflito, um ato, um fato. Ele se reconhece um
inventor constante, porque as palavras não abrangem a constância crescente do
humano. Em um momento, flagra-se um sentir por meio de palavra. No sequente, a
mesma palavra revela-se insuficiente para designar o sentir. O sentir é que
esconde a palavra, envolve-na, ofusca-na. E ela precisa, pela mão do poeta,
repalavrear-se, renovar-se ou (re)buscar os conteúdos aprisionados e ofuscados
na constância cristalizada dos sentidos e das formas. O jogo estético entre o
conteúdo e a forma renova os sentidos expressos pelo poeta. E o homem,
sobretudo o poeta, na sua incompletude, busca na e pela palavra compreender-se,
compreender o outro e o mundo, para se sentir salvo.
Nos causos rapsódicos que compõem a grande obra de João Guimarães
Rosa “Grande Sertão: Veredas”, pode se observar essa alternância entre o bem e
mal na conduta do ser humano. O mal replantado em constâncias revividas revela
o ser humano perverso, como se percebe na estória de Pedro Pindó. E, na mesma
medida, replantado e revivido, pode tornar o vivente outro ser, com diverso
sentir e outros valores.
Retomando a reflexão inicial de que a extensão territorial do país
impede a uniformização da caracterização da literatura regional brasileira,
ressalta-se que tal fato constituiria um erro, porque a literatura, como se
afirmou inicialmente, abarca e explora uma linguagem contextual, refrata e
reflete a cultura de um local, e não se pode exigir que, em um país continental
como é o Brasil, haja uma produção cultural unificada. E acrescenta-se a isso o
fato errôneo de se qualificar uma produção em detrimento de outra. Todas têm o
valor estético imanente à linguagem, à cultura regional.
Ademais,
considera-se que a produção artística, sobretudo a literária cuja matéria prima
é a linguagem, engendra-se no limbo entre o regional e o nacional, o particular
e o universal. Segundo Candido (2008), a obra de arte é fruto da iniciativa
individual ou das condições sociais, quando na verdade ela surge na confluência
de ambas, indissoluvelmente ligadas: particular e o coletivo, o regional e o
nacional, o singular e o universal. O fato de se explorar aspectos
regionalistas, como linguagem, princípios, ideologias, não descaracteriza o
aspecto universal da literatura. Aliás, poderá, ao contrário, reforçá-lo, uma
vez que a ênfase na (re)criação apresenta novos contornos ao que já se
consolidou como linguagem, princípios, ideologias renovando-os enquanto
representação e experivivência.
A linguagem, a posse da
palavra, o seu uso - criativo ou pragmático -, é um bem cultural universal, que
carrega suas peculiaridades regionais, sem dúvida. Mas como bem comum – de
todos – não impõe limites na sua (re)criação. Não é o fato de ser regional que
a faz menor, do contrário é o fato de ser regional, particular que contribuí
para a construção harmônica do complexo e do universal. E João Guimarães Rosa é
exímio exemplo dessa ordem, que se transfigura num processo cíclico entre o
regional e o universal, bem demonstrado nos fragmentos rapsódicos retirados do
seu Grande Ser Tão: Veredas, ou seja, João Guimarães: Rosa.
Bibliografia
CANDIDO, Antonio. Literatura
e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre o azul, 2008.
COUTINHO, Afrânio. Conceito de literatura brasileira. São Paulo: Ediouro s/d.
RIBEIRO, Darcy. O
povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras: 2006.
ROSA, João Guimarães. Grande
Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
SILVA, Rosa Amélia P. Ler
literatura: o exercício do prazer. Dissertação de mestrado defendida no
departamento de Teoria Literária e Literatura – Universidade de Brasília, 2009.
BAKHTIN, Michael
Mikhailovitch. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 1922.
______. Marxismo e
filosofia da linguagem. São Paulo: Anna Blume, 2002.
______. Questões
de literatura e estética: a teoria do romance. São Paulo: Anna Blume, 2002.
______. Para a
filosofia do ato. [S.n.t.].
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mandiocaost
Nenhum comentário:
Postar um comentário