sábado, 28 de outubro de 2017

Blaise Pascal: uma análise

Por Rosa Amélia
https://www.youtube.com/watch?v=4mQ-vkNAktU (consultado em 11/08/2017)

O filme Blaise Pascal, produzido por Russollini, como o nome próprio indica, remonta a vida do grande pensador Pascal, que viveu no século VXII ainda sob forte influência do poder religioso e das ideologias cristãs. Assim, o filme, que é de época, tem um caráter histórico muito forte, porque revela as ideologias, a cultura de uma sociedade.
Pascal foi um grande pensador, mesmo preso aos ideais cristãos, buscava por meio da razão compreender o mundo, a fé e Deus. Ele teve grande influência no desenvolvimento da ciência no referido século, sobretudo na matemática, área em que ele foi o percussor. A criação de máquinas de calcular deve . O filme revela o quanto ele foi importante para o início e o desenvolvimento das máquinas de calcular. Talvez Pascal tenha sido o precursor de toda essa engenharia moderna que realiza cálculos artificialmente. Ainda naquela época, mesmo ainda sob as remanescentes ideias renascentistas, a partir das quais o homem podia lograr algum êxito sobre os dogmas religiosos, acreditava-se em bruxarias, na força do diabo como algo terreno e aterrorizador, que capitulava pessoas e as levava a serem vingativas e do mal.
Diante da religião, Pascal, mesmo sendo um fiel seguidor das ideias de Cristo, apresenta uma conduta questionadora. Põe em cheque a sabedoria daqueles que são considerados iluminados e indaga por que razão Deus, autor do universo, cega alguns e ilumina outros. Estes nunca o alcançarão como verdade, uma vez que são pretensiosos e esquecem que a verdade “é uma coisa viva que se conhece e se cultiva com a razão e com o coração”. Neste sentido, fica evidente a perspectiva filosófica de Pascal, que reconhece a ambiguidade humana: o pensar e o sentir.
Nas palavras do pensador, ele desconfia “de todas as certezas dos sábios”. Afirma que Deus, enquanto verdade a ser conhecida, está fora do alcance do homem devido à mediocridade humana. A produção da ciência por meio de experimentos não diminui a mediocridade humana diante dos olhos de Deus. A ciência tem dois extremos que se tocam: a ignorância, pura e natural; e o conhecimento que, à medida que é construído, leva o homem a entender que nada sabe e não pode saber, a se reconhecer ignorante. Entre esses dois polos, há aqueles que, envernizados de sabedoria, se julgam sábios, julgam mal e nada sabem.
Pascal faz tais afirmações imbuído pelo espírito científico e na tentativa de provar, experimentalmente, a existência do vácuo, no que é bem-sucedido, mas não parece ter boa aceitação diante do clero e dos pensadores da época. Por associação à teoria do vácuo, ele elabora tais ideias acerca dos homens ignorantes naturais, os sábios que reconhecem a própria ignorância e os intermediários, aqueles que julgam conhecedores de todas as coisas. Para Pascal, não se deve nunca emitir um juízo definitivo, acerca de uma negação e de uma afirmação, caso uma delas não tenha sido verificada. Observa-se nessa reflexão uma premissa da epistemologia moderna.
No discurso de Pascal, fica claro o seu descontentamento com o excesso de novidade aceita pelos teólogos e com a recusa das poucas ideias aparentemente coerentes que aparecem no campo da física, da matemática e da química e, sobretudo, com a condenação dos propositores destas últimas.
Observa-se, no discurso de Pascal, o conflito barroco típico dos homens do século XVII: a tentativa de compreender o mundo e a verdade, a compreensão da infinitude do universo e de Deus e a finitude do homem e de suas formas de conhecer. Logo, se o mundo de revela infinito, o que parece, na perspectiva pascalina, é que não se pode nunca alcançar o conhecimento em sua totalidade, Deus e a verdade são inatingíveis porque são infinitos e a razão humana, sento finita, não tem condições de alcançar aquilo que é maior que ela.
O filme parece ser bem fiel tanto à cultura de época quanto à vida do pensador Pascal, além de revelar de forma bem sucinta e elaborada a concepção filosófica que compõe o pensamento deste pensador: "O homem só se torna grande quando se reconhece miserável". Monumental foi Blaise Pascal.





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