Por Rosa Amélia
https://www.youtube.com/watch?v=4mQ-vkNAktU (consultado em 11/08/2017)
O
filme Blaise Pascal, produzido por Russollini, como o nome próprio indica,
remonta a vida do grande pensador Pascal, que viveu no século VXII ainda sob
forte influência do poder religioso e das ideologias cristãs. Assim, o filme,
que é de época, tem um caráter histórico muito forte, porque revela as
ideologias, a cultura de uma sociedade.
Pascal
foi um grande pensador, mesmo preso aos ideais cristãos, buscava por meio da
razão compreender o mundo, a fé e Deus. Ele teve grande influência no
desenvolvimento da ciência no referido século, sobretudo na matemática, área em
que ele foi o percussor. A criação de máquinas de calcular deve . O filme revela o
quanto ele foi importante para o início e o desenvolvimento das máquinas de
calcular. Talvez Pascal tenha sido o precursor de toda essa engenharia moderna
que realiza cálculos artificialmente. Ainda naquela época, mesmo ainda sob as
remanescentes ideias renascentistas, a partir das quais o homem podia lograr algum
êxito sobre os dogmas religiosos, acreditava-se em bruxarias, na força do diabo
como algo terreno e aterrorizador, que capitulava pessoas e as levava a serem
vingativas e do mal.
Diante
da religião, Pascal, mesmo sendo um fiel seguidor das ideias de Cristo, apresenta
uma conduta questionadora. Põe em cheque a sabedoria daqueles que são
considerados iluminados e indaga por que razão Deus, autor do universo, cega
alguns e ilumina outros. Estes nunca o alcançarão como verdade, uma vez que são
pretensiosos e esquecem que a verdade “é uma coisa viva que se conhece e se
cultiva com a razão e com o coração”. Neste sentido, fica evidente a
perspectiva filosófica de Pascal, que reconhece a ambiguidade humana: o pensar
e o sentir.
Nas
palavras do pensador, ele desconfia “de todas as certezas dos sábios”. Afirma
que Deus, enquanto verdade a ser conhecida, está fora do alcance do homem
devido à mediocridade humana. A produção da ciência por meio de experimentos não
diminui a mediocridade humana diante dos olhos de Deus. A ciência tem dois
extremos que se tocam: a ignorância, pura e natural; e o conhecimento que, à
medida que é construído, leva o homem a entender que nada sabe e não pode saber,
a se reconhecer ignorante. Entre esses dois polos, há aqueles que, envernizados
de sabedoria, se julgam sábios, julgam mal e nada sabem.
Pascal
faz tais afirmações imbuído pelo espírito científico e na tentativa de provar,
experimentalmente, a existência do vácuo, no que é bem-sucedido, mas não parece
ter boa aceitação diante do clero e dos pensadores da época. Por associação à
teoria do vácuo, ele elabora tais ideias acerca dos homens ignorantes naturais,
os sábios que reconhecem a própria ignorância e os intermediários, aqueles que
julgam conhecedores de todas as coisas. Para Pascal, não se deve nunca emitir
um juízo definitivo, acerca de uma negação e de uma afirmação, caso uma delas
não tenha sido verificada. Observa-se nessa reflexão uma premissa da
epistemologia moderna.
No
discurso de Pascal, fica claro o seu descontentamento com o excesso de novidade
aceita pelos teólogos e com a recusa das poucas ideias aparentemente coerentes
que aparecem no campo da física, da matemática e da química e, sobretudo, com a
condenação dos propositores destas últimas.
Observa-se,
no discurso de Pascal, o conflito barroco típico dos homens do século XVII: a
tentativa de compreender o mundo e a verdade, a compreensão da infinitude do
universo e de Deus e a finitude do homem e de suas formas de conhecer. Logo, se
o mundo de revela infinito, o que parece, na perspectiva pascalina, é que não
se pode nunca alcançar o conhecimento em sua totalidade, Deus e a verdade são
inatingíveis porque são infinitos e a razão humana, sento finita, não tem condições
de alcançar aquilo que é maior que ela.
O
filme parece ser bem fiel tanto à cultura de época quanto à vida do pensador
Pascal, além de revelar de forma bem sucinta e elaborada a concepção filosófica
que compõe o pensamento deste pensador: "O homem só se torna grande quando se reconhece
miserável". Monumental foi Blaise Pascal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário