ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Para ler Grande Sertão:
Veredas, de Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Editora Páginas, 2020.
O
livro, com 384 páginas, demonstra todo o empenho do seu autor em destrinchar a
obra sobre a qual ele se debruçou como deve proceder um bom pesquisador. Está
dividido em três partes. No preâmbulo, o autor realiza uma reflexão preliminar sobre
a linguagem de João Guimarães Rosa, sobre o estilo da escrita rosiana, que tem
traços da oralidade, mas desta se distingue por sua singularidade e seu caráter
criador. Ainda no preâmbulo, o autor também discute a forma como Riobaldo se
apropria da linguagem e faz dela uso para expor seus conflitos existenciais.
Na primeira parte, ele faz uma descrição dos
vários fenômenos da linguagem e recursos linguísticos empregados na obra por
João Guimarães Rosa. Entre os metaplasmos, há apontamentos de síncopes,
aféreses; entre as figuras de linguagem, muitas outras ocorrem no livro, mas destacam-se
os aforismos, os neologismos, os dequeísmos, as inversões, as antíteses, as
prosopopeias, o ritmo e as rimas internas, próprias da prosa rosiana. É
importante ressaltar que esses apontamentos aparecem explicados teoricamente e
exemplificados à luz do romance do Rosa, com citações específicas. Esta é uma
das razões que aponto como valorosa no livro. Para o estudante de Letras que
deseja compreender os fenômenos linguísticos de uma língua, o estudo é uma
leitura necessária e proveitosa, revela-se um profícuo observatório.
Além
dessa razão, vale destacar a importância da obra de João Guimarães Rosa como
uma reunião de fatos linguísticos inusitados e repletos de poesia. Ler
Grande Sertão: Veredas pode parecer difícil, mas, à medida que se mergulha
na obra, vai se descobrindo o maior intento do autor: desvelar, por meio de uma
linguagem própria, o mundo que está cristalizado na linguagem convencional.
Rosa, na verdade, ao escrever, burila as palavras e as frases, com estrutura,
às vezes, até extravagante, e tenta revelar a beleza poética natural presente nas
palavras. A beleza que se perde pelo uso convencional da linguagem. Como ele mesmo diz, é preciso “tirar a poeira
das palavras”. Este tirar a poeira refere-se à necessidade de reavivar o brilho
poético que as palavras apresentam no seu sentido natural.
E
por que trago essa reflexão relacionada à obra do Rosa? Porque, ao ler o texto
do professor Luiz, vislumbrei este mesmo intento, na segunda parte do livro.
Ele, página a página, desvela para o leitor comum os sentidos ocultos das
palavras, das expressões, das frases empregadas por João Guimarães Rosa em seu
romance. O professor, com muito esmero, abre, para o leitor, caminhos na
floresta do Grande Sertão: Veredas, abre clareiras para o entendimento
da palavra poética rosiana. Este caráter pedagógico da proposta do professor
Luiz, página a página, traz explicações esclarecedoras que mostram tanto o
sentido convencional quanto o sentido poético da linguagem, este que vai sendo consumido
e esquecido pelo contínuo uso das palavras.
O
estudo do professor Luiz, na verdade, atende a dois públicos: o estudante de Letras,
que, por uma exigência curricular, precisa estudar e compreender os fenômenos
da linguagem; e o leitor comum de literatura, que pode se sentir desencorajado a
ler a obra de João Guimarães Rosa, por julgá-la difícil de ser lida. E mais,
ler o texto do professor Dr. Luiz pode encorajar o leitor neófito a mergulhar
na obra mais importante da literatura brasileira do século XX. Fica a dica de
leitura!
Nenhum comentário:
Postar um comentário