sábado, 12 de junho de 2021

Resenha: Para ler Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa

ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Para ler Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Editora Páginas, 2020.

 


        O livro Para ler Grande Sertão: Veredas, publicado pela Editora Páginas, de autoria de Luiz Carlos de Assis Rocha, revela-se um primor para aqueles que gostam de estudar, formal ou informalmente, a linguagem. Explicarei as razões. Antes, devo apresentar o autor: o Dr. Luiz é professor da Universidade Federal de Minas Gerais, atua, especificamente, na área de Linguística e realizou, na área em que ensina, um trabalho hercúleo a partir de Grande Sertão: Veredas, obra  que se tornou fonte  para as suas pesquisas relacionadas à linguagem. Ele uniu, na sua pesquisa, linguística e literatura. E realizou uma escolha acertada, pois o romance Grande Sertão: Veredas é um grande laboratório tanto para estudos de questões literárias e de questões linguísticas, quanto análises de questões filosóficas e sociológicas.

O livro, com 384 páginas, demonstra todo o empenho do seu autor em destrinchar a obra sobre a qual ele se debruçou como deve proceder um bom pesquisador. Está dividido em três partes. No preâmbulo, o autor realiza uma reflexão preliminar sobre a linguagem de João Guimarães Rosa, sobre o estilo da escrita rosiana, que tem traços da oralidade, mas desta se distingue por sua singularidade e seu caráter criador. Ainda no preâmbulo, o autor também discute a forma como Riobaldo se apropria da linguagem e faz dela uso para expor seus conflitos existenciais.

 Na primeira parte, ele faz uma descrição dos vários fenômenos da linguagem e recursos linguísticos empregados na obra por João Guimarães Rosa. Entre os metaplasmos, há apontamentos de síncopes, aféreses; entre as figuras de linguagem, muitas outras ocorrem no livro, mas destacam-se os aforismos, os neologismos, os dequeísmos, as inversões, as antíteses, as prosopopeias, o ritmo e as rimas internas, próprias da prosa rosiana. É importante ressaltar que esses apontamentos aparecem explicados teoricamente e exemplificados à luz do romance do Rosa, com citações específicas. Esta é uma das razões que aponto como valorosa no livro. Para o estudante de Letras que deseja compreender os fenômenos linguísticos de uma língua, o estudo é uma leitura necessária e proveitosa, revela-se um profícuo observatório.

Além dessa razão, vale destacar a importância da obra de João Guimarães Rosa como uma reunião de fatos linguísticos inusitados e repletos de poesia. Ler Grande Sertão: Veredas pode parecer difícil, mas, à medida que se mergulha na obra, vai se descobrindo o maior intento do autor: desvelar, por meio de uma linguagem própria, o mundo que está cristalizado na linguagem convencional. Rosa, na verdade, ao escrever, burila as palavras e as frases, com estrutura, às vezes, até extravagante, e tenta revelar a beleza poética natural presente nas palavras. A beleza que se perde pelo uso convencional da linguagem.  Como ele mesmo diz, é preciso “tirar a poeira das palavras”. Este tirar a poeira refere-se à necessidade de reavivar o brilho poético que as palavras apresentam no seu sentido natural.

E por que trago essa reflexão relacionada à obra do Rosa? Porque, ao ler o texto do professor Luiz, vislumbrei este mesmo intento, na segunda parte do livro. Ele, página a página, desvela para o leitor comum os sentidos ocultos das palavras, das expressões, das frases empregadas por João Guimarães Rosa em seu romance. O professor, com muito esmero, abre, para o leitor, caminhos na floresta do Grande Sertão: Veredas, abre clareiras para o entendimento da palavra poética rosiana. Este caráter pedagógico da proposta do professor Luiz, página a página, traz explicações esclarecedoras que mostram tanto o sentido convencional quanto o sentido poético da linguagem, este que vai sendo consumido e esquecido pelo contínuo uso das palavras.

O estudo do professor Luiz, na verdade, atende a dois públicos: o estudante de Letras, que, por uma exigência curricular, precisa estudar e compreender os fenômenos da linguagem; e o leitor comum de literatura, que pode se sentir desencorajado a ler a obra de João Guimarães Rosa, por julgá-la difícil de ser lida. E mais, ler o texto do professor Dr. Luiz pode encorajar o leitor neófito a mergulhar na obra mais importante da literatura brasileira do século XX. Fica a dica de leitura!


Nenhum comentário: