Por Rosa Amélia
Você morreu, mãe, e eu não chorei.
Perdoa-me por eu não ter chorado naquele dia, eu não podia chorar.
Não podia chorar, eu não sabia o que era a morte.
Mas depois, eu chorei a vida toda.
Eu chorei quando você não voltou.
Eu chorei as brincadeiras jocosas dos vizinhos por você ter preferido ir morar numa caixa.
Eu chorei o seu não estar aqui.
Eu chorei o seu colo.
Eu chorei a tristeza da casa da roça vazia de você.
Eu chorei nossas idas ao córrego.
Eu chorei a falta das suas orelhas no balanço da rede ao dormir.
Eu chorei a ausência de seus ensinamentos.
Eu chorei a falta de suas possíveis broncas e estímulos.
Eu chorei a falta da conversa materna.
Eu chorei o seu exemplo de maternidade.
Eu chorei o seu exemplo de conciliação.
Eu chorei a saudade do seu arroz com feijão.
Eu chorei o sabor dos biscoitos quentinhos no grande forno de quintal.
Eu chorei a falta do seu amor.
Eu chorei a nossa solidão cósmica - a sua e a minha.
Eu chorei, sem poder chorar.
Fizeram-me engolir o meu pranto e a minha tristeza.
O seu luto eu vivi na calada da noite, na solidão da enorme escola, na responsabilidade de ser a irmã que acolhe, compreende e ajuda, no sonho da professora que me encantou, no quieto do quintal, debaixo da goiabeira, mais tarde no encantamento dos contos de fadas, das histórias de crianças órfãs abandonadas na floresta; quando mocinha, no silêncio reverberante da palavra literária, na orfandade de filha e de uma filha.
Eu engoli, a seco, no silêncio da noite, no quieto do quintal, na leitura e nos estudos dos livros, o luto que eu vivi toda uma vida.
Eu chorei a vida toda silenciosamente... um choro calado, pra dentro.
Fizeram-me forte para além dos meus braços e me deram limites a cumprir. Cumpri-os, sem paixão. Eu não podia chorar. "Engole o choro, engole o choro". Aprendi a chorar baixinho, sofrido, calado, molhado para dentro, seco nos olhos. O choro foi a tristeza interna refletida no olhar e não a lágrima que reverbera face abaixo.
Hoje o vômito, primeiro, a seco, veio à tona... depois o vômito, o vômito do vômito fétido me fez expelir todo "engula o choro" que me desceram goela a baixo.
E hoje me liberto dessa dor que estava aqui engasgada, presente e forte, como se fosse parte necessária de mim, há 45 anos, por não ter podido chorar o meu pranto quando fui capaz de compreender o que é a morte e, por consequência, compreender a SUA morte.
Perdoa-me por eu não ter chorado naquele dia, eu não podia chorar.
Não podia chorar, eu não sabia o que era a morte.
Mas depois, eu chorei a vida toda.
Eu chorei quando você não voltou.
Eu chorei as brincadeiras jocosas dos vizinhos por você ter preferido ir morar numa caixa.
Eu chorei o seu não estar aqui.
Eu chorei o seu colo.
Eu chorei a tristeza da casa da roça vazia de você.
Eu chorei nossas idas ao córrego.
Eu chorei a falta das suas orelhas no balanço da rede ao dormir.
Eu chorei a ausência de seus ensinamentos.
Eu chorei a falta de suas possíveis broncas e estímulos.
Eu chorei a falta da conversa materna.
Eu chorei o seu exemplo de maternidade.
Eu chorei o seu exemplo de conciliação.
Eu chorei a saudade do seu arroz com feijão.
Eu chorei o sabor dos biscoitos quentinhos no grande forno de quintal.
Eu chorei a falta do seu amor.
Eu chorei a nossa solidão cósmica - a sua e a minha.
Eu chorei, sem poder chorar.
Fizeram-me engolir o meu pranto e a minha tristeza.
O seu luto eu vivi na calada da noite, na solidão da enorme escola, na responsabilidade de ser a irmã que acolhe, compreende e ajuda, no sonho da professora que me encantou, no quieto do quintal, debaixo da goiabeira, mais tarde no encantamento dos contos de fadas, das histórias de crianças órfãs abandonadas na floresta; quando mocinha, no silêncio reverberante da palavra literária, na orfandade de filha e de uma filha.
Eu engoli, a seco, no silêncio da noite, no quieto do quintal, na leitura e nos estudos dos livros, o luto que eu vivi toda uma vida.
Eu chorei a vida toda silenciosamente... um choro calado, pra dentro.
Fizeram-me forte para além dos meus braços e me deram limites a cumprir. Cumpri-os, sem paixão. Eu não podia chorar. "Engole o choro, engole o choro". Aprendi a chorar baixinho, sofrido, calado, molhado para dentro, seco nos olhos. O choro foi a tristeza interna refletida no olhar e não a lágrima que reverbera face abaixo.
Hoje o vômito, primeiro, a seco, veio à tona... depois o vômito, o vômito do vômito fétido me fez expelir todo "engula o choro" que me desceram goela a baixo.
E hoje me liberto dessa dor que estava aqui engasgada, presente e forte, como se fosse parte necessária de mim, há 45 anos, por não ter podido chorar o meu pranto quando fui capaz de compreender o que é a morte e, por consequência, compreender a SUA morte.
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